No armario de casacos

Ontem no salão de beleza enquanto minha cunhada tentava ficar ainda mais loira, conversamos um mundo de coisas e obviamente passei o relatório completo dos últimos acontecimentos, com toda dramaticidade que me é peculiar, enfim, ela disse algo que me fez pensar, exatamente isso:

"- A gente podia ler os pensamentos"

Bom, não é possível essa façanha, mas a de convir comigo que a maioria de nossas ações são feitas para serem decifradas, sempre deixamos as intenções no ar.

Nós temos a doce mania de nos iludir, não é ninguém mais,ninguém menos que nos mesmos que nos iludimos.

Para e analisa, quem morre de ansiedade pra saber, onde estava, com quem estava, o que anda fazendo, porque não da noticias, por que não liga, então quando não há respostas, nos respondemos, deve estar trabalhando muito ou estudando muito, a mãe ta doente, viajou as presas, enfim, quando a resposta esta ali na cara, mascaramos ela e nos iludimos. Não é via de regra, mas não e fato isolado, vejo isso o tempo todo e quando me pego fazendo, chuto pra cima, bola pra frente.

Exatamente por não poder ler pensamentos tentamos supor, imaginamos, " fuçamos" a vida dos outros ate descobrir, descobrir o que????

Descobrir que somos maníaco dependente da vida de outra pessoa, que nossas suposições são tão validas quanto de um bêbado ou de uma trambiqueira que prevê o futuro.

Sabe o que e bom, perguntar, isso ai. Quer saber, pergunta! Se não quer perguntar ou não tem liberdade pra isso, esquece e pronto.

Quero ler o pensamento de um certo alguém, mas pra que se já li nas entrelinhas que e bobagem querer sol e lua ao mesmo tempo no céu. Melhor ser estrela que se mantém no céu seja com sol, seja com lua.

No armario de casacos, pego meu par de asas e saio pela cidade, o vento curva e sopra de baixo pra cima, me impulsiona e voo. No céu viro estrela.