Doçura

Doçura

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Um oitavo


Da janela do oitavo andar, assisto aos carros velozes que passam pela avenida iluminada, me perco no som que o pneu faz sob a pista molhada, rapidamente vira musica, em instantes estou compondo um soneto, imaginando as pessoas que ocupam os veículos e em suas vidas.

Em que momento do dia suas vidas parearam com a minha, eu só vejo a mim mesma.

O telefone agora mudo na escrivaninha, já recebeu ligações demais por hoje, ainda assim o som da campainha se junta ao som que vem de fora, medito.

Onde os passos se perderam, onde os sonhos se tornaram efémeros, onde estava quando tudo mudou, porque quando me olho no espelho ainda vejo a menina que há em mim.

A menina que corre e dança e fala e fala, que tem uma necessidade de contar ao mundo seus planos secretos, que se veste de bailarina com uma coroa na cabeça e sabe que é princesa.

Que anda na beira do rio pra ver os peixinhos brincarem, que parece flutuar pelas ruas e ri de tudo. A menina arteira, pipoca, princesa, que de tanto falar, conquistou o mundo que ela quis, que cobriu de giz o rosto de menina e se tornou mulher, que vez por outra fica na janela do oitavo andar observando os carros a passar.

Apaixonada, amando e amada, só entende de cores e sons, de musica e poesia, de um céu com arco íris e estrelas.

Estava aqui, dentro de mim.

Um comentário:

Laís disse...

Lindo. Suas palavras são incríveis... Quando liberto a menina que há dentro de mim me sinto um pouco estranha... mas fico feliz em saber que não sou a única que adora isso.