Doçura

Doçura

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Um conto



O vento faz curva na esquina da São Clemente com a praia de Botafogo, ali passa levando consigo a batucada do pagode da padaria, o som entediante do funk desarranjado, enquanto o som da TV é abafado pelos torcedores do flamengo no bar logo em baixo.

Nas compridas calçadas vejo bancas de jornal e vasos com plantas verdes e flores. Deixo o vento, que ali faz curva, bagunçar meu cabelo, sem brigar, sem contestar, apenas o saúdo com um sorrido largo e de braços abertos.

A janela que divide o cotidiano inusitado de domingo, não consegue conter o burburinho vindo de todas as partes e derrepente todos estão em suas janelas olhando para rua na tentativa de calar a massa e logo vejo a participação involuntária de alguns, balançando o corpo ou cantarolando a meia voz. No albergue em frente os estrangeiros não se incomodam, não entendem mas aposto que imaginam, domingo é dia de festa.

O café forte, o banho quente, a cama aconchegante. A ida de metro até a praia, ah, a praia de Ipanema... os taxisistas loucos, que surgem do nada e logo desaparecem, cortando um carro aqui e outro ali. Baianagem é coisa de nordestino.

Passeio na rua no fim de tarde, banho que lava da cabeça aos pés. Preguiça em demasia.

Dentro das paredes antigas e de chão de taco, muito bem lustrado, te vejo jogado no sofá como se se mover dali fosse um grande custo, me jogo do seu lado e enrosco minhas pernas na suas e escuto sua gargalhada enquanto tento sem sucesso alinhar os pelos do seu braço.

Tentei te tocar com a mão aberta e te envolver nos meus abraços, mas estava a distancia de permitir apenas um toque. A ponta dos meus dedos traçam seus caminhos sem pestanejar.

Há um tempo atrás, fiz o seguinte juramento a mim. Se nos meus caminhos você voltasse a andar, iria me despir de alma e te mostrar quem sou. Iria tirar as mascaras e construir passagens para passar minha muralha, me livraria do medo e da culpa. Não tentaria supor seus pensamentos e dizer suas palavras sem antes proferi-las.

Unicamente iria te abraçar pela primeira vez como se fosse a última, te acariciar os cabelos e te dar beijos suaves e assim te deixar me alcançar.

Entendi, que suas mãos me tocam, seus olhos realmente me vêem, você já me alcançou e estou me referindo a alma, o espírito livre que tenho, mas... Apenas um toque, a ponta de meus dedos chegam até você.

Agora não e mais comigo, não se trata mais de minhas barreiras , meus medos e convicções pouco flexíveis.



'Liberdade'

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